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Empreendedorismo e Startups

Nas últimas quatro semanas, troquei uma série de emails com o gente-boníssima William Ribeiro do site Dinheiro com Você. A compilação desta conversa será apresentada neste artigo que é o primeiro da série “Bate-Papo Entre Empreendedores”. Empresário há 15 anos, William Ribeiro percebeu que era preciso mudar a maneira de gerenciar seus recursos financeiros. Analisando as finanças da sua empresa e seus investimentos pessoais, compreendeu que as aplicações não eram tão interessantes quanto o gerente do banco dizia ser. Pensando nisso, criou o blog “Dinheiro com Você” onde compartilha com leitores e alunos todo o conhecimento que adquiriu sobre finanças pessoais.

Nesta semana foi publicada no portal Exame uma reportagem sobre o aumento da popularidade da educação financeira na internet. No artigo, William salienta que a educação financeira ainda carece de reconhecimento no Brasil, tanto por parte dos cidadãos quanto por parte do poder público. “Não vemos educação financeira na escola e muitas vezes nem dentro de casa. Muita gente ainda acredita que falar sobre dinheiro é assunto de gente rica, esnobe”.

Cresce cada vez mais o número de blogs e sites de educação financeira. Porém, os autores enfrentam um problema com esta popularização: “A quantidade de informação disponível pode muitas vezes confundir e há quem tente enganar os leitores. Oferecer conteúdo relevante é, portanto, uma prioridade para os autores que querem realmente ajudar a disseminar a educação financeira no país”.

Empreendedorismo na Área de Eletrônica

Uó >>> William, pode contar um pouco da sua história como empreendedor para os leitores do Web Informado que ainda não conhecem o seu trabalho?

Sou empresário há quase 16 anos, fabricando equipamentos eletrônicos. Comecei bem cedo, logo após formar no curso técnico. Na ocasião, em tempos de internet ainda incipiente, eram poucas as empresas que desenvolviam produtos que continham software embarcado e também para computador.

Então fazíamos os produtos, que eram relógios de ponto informatizados, e saíamos para o mercado. Dava um trabalhão, mas a competição era muito menor. Passamos momentos bem difíceis, mas conseguimos nos estabelecer no mercado.

Em um dado momento, analisando as finanças da empresa e meu próprio dinheiro, percebi que o rendimento das aplicações não era tão interessante assim como o gerente do banco fazia parecer. Grande parte das pessoas ainda possui como principal fonte de Educação Financeira a propaganda dos grandes bancos.

Percebi então que o conhecimento que eu adquiri em Finanças Pessoais poderia ser útil para muitas pessoas. E poder contribuir como uma fonte independente de Educação Financeira, através do Dinheiro com Você, tem me proporcionado uma satisfação pessoal enorme. Maior até daquela que eu possuía no próprio negócio de vender equipamentos.

Compartilhamento de Conhecimento como Missão

William >>> E você, Uorrem: como a sua atuação profissional se encaixa com o seu ótimo trabalho no Web Informado? O que te motiva a se envolver com finanças e compartilhar seus conhecimentos com o público através do seu site?

William, a sua pergunta contém a palavra chave que guia minha vida neste momento, vou até roubar sua ideia e denominar meu momento atual de “minha nova vida”, rs. A palavra chave é: compartilhar.

Acredito que todo ser humano passa basicamente por dois momentos de vida: o primeiro momento seria o de acumulação e o segundo momento seria o de distribuição ou compartilhamento. Não estou falando aqui de recursos financeiros, mesmo que esta ideia sirva também para isto, mas estou falando de compartilhamento do que temos de mais valioso na nossa vida: o nosso tempo.

Por que falo isto? É uma coisa óbvia quando você percebe, mas até perceber nunca irá enxergar que o seu tempo de vida é seu bem mais valioso. Quando se é jovem a vida parece infinita, você valoriza outras coisas como dinheiro, bens materiais, status social, etc. E quando você se dá conta que o reloginho está só contando, que a areia da ampulheta está diminuindo, você começa a dar o real valor para cada minuto da sua vida.

E neste caminho algo acontece, pelo menos aconteceu comigo, e tenho certeza que aconteceu com você também: você percebe que tudo que você alcança na vida só faz sentido de verdade se pode ser compartilhado com outras pessoas.

Isto pode parecer um discurso politicamente correto, formatado para criar um impacto no leitor, mas para mim é real. Quem me acompanha há mais de 4 anos, desde o blog antigo, sabe que estou aqui para compartilhar conhecimento, superficiais em alguns momentos, profundos em outros, mas sempre compartilhando.

Então, voltando à sua pergunta, a resposta ao que me motiva está na própria pergunta: compartilhar conhecimento, esta é a resposta, o compartilhamento é a motivação em si. E por que na área de finanças?
Bom, poderia estar compartilhando conhecimento em outras áreas, como na área de engenharia ou T.I. por exemplo, que são áreas ligadas à minha profissão, mas escolhi esta área simplesmente por ser o que mais gosto de fazer hoje em dia… acompanhar mercado, analisar balanços de empresas, estudar a conjuntura econômica, pesquisar as melhores formas de investimento, etc.

E como estou aprendendo a cada dia, muitas vezes aprendendo através de erros cometidos, que diga-se de passagem é a melhor forma de aprender, faço questão de compartilhar no blog o resultado deste aprendizado. Mas confesso que nos últimos tempos tenho me distanciado do tema “investimento”, a criação do novo site tem a ver com isto.

O blog antigo era estritamente focado em finanças, e criei este novo site com a intenção de expandir um pouco os assuntos, mas acaba que sempre estou falando de mercado financeiro no site, rs. Sobre a primeira pergunta, como a minha atuação profissional se encaixa com trabalho à frente do site, acredito que tenha pouca ligação.

Porém, meu posicionamento à frente do site é bem similar ao meu posicionamento à frente dos meus projetos profissionais: procuro sempre fazer a coisa da forma mais profissional possível, sempre procurando me superar e superar as expectativas dos clientes, tendo sempre em mente que não estou fazendo “o melhor” mas sim “o meu melhor”.

Vale a Pena Empreender no Brasil?

Uó >>> William, antes de entrar no assunto do seu novo projeto, gostaria de conhecer um pouco mais da sua carreira como empreendedor à frente da RWTech. Pelo que pesquisei, sua empresa é pioneira no setor em que atua. Como sou microempresário sei a dificuldade que é ser empreendedor neste país, principalmente no que diz respeito aos entraves burocráticos impostos pelo governo.

Aqui na blogosfera a grande parte dos colegas são empregados de carteira assinada, empreendedores são poucos. E destes empregados, a grande maioria não está satisfeita nos seus cargos. É muito comum também ver colegas indo para o lado dos concursos públicos como forma de buscar estabilidade. 

A minha pergunta é: vale a pena ser empreendedor neste país? O que você tem a dizer para os colegas que estão insatisfeitos nos seus empregos e estão procurando uma forma de ser mais útil para a sociedade? Qual seria o primeiro passo? É preciso der uma boa ideia antes de começar? É preciso ter reserva financeira? É preciso ter sócios? É preciso ter um investidor anjo? Ou basta ter força de vontade que no final tudo dá certo?

Escrevi um artigo recentemente sobre isso para o Dinheirama, a respeito da falta de incentivos de se empreender no Brasil. Temos um histórico de governos populistas na América Latina como um todo, que prega que os trabalhadores dependem do governo para protegê-los dos empresários (capitalistas, donos dos meios de produção e outros adjetivos pejorativos).

O problema do populismo é que ama tanto os pobres que deseja que continuem assim para sempre. Medidas educacionais levariam dezenas de anos e contribuiriam para emancipar as pessoas, intelectualmente falando – o que não faz sentido para nenhum governo populista.

Vi recentemente um exemplo de doutrinação de esquerda: um manifestante contra a PEC241 disse que a medida seria necessária porque, para se conseguir mais dinheiro em caixa, bastava fazer que os altos juros deixassem de ser pagos para o “sistema”. Como se os juros já não fossem um castigo para nosso governo gastador, objetivo que a PEC deseja conter.

Estes juros são os primeiros desestimulantes para se empreender. No momento atual, temos títulos privados pagando mais de 7% de juros reais (acima da inflação medida pelos índices de preços), com risco praticamente zero. São raríssimas as empresas que, nas condições adversas atuais, estão conseguindo fazer esta quantia de lucro.

As empresas vencedoras mitigaram ou continuam faceando uma enorme carga de riscos de toda ordem: tributário, jurídico, trabalhista, financeiro… Então, imagino que empreender é uma decisão de altíssimo risco, inclusive de oportunidade (por se não aplicar o capital em outro lugar). Não é o que pensa Warren Buffet, porém:

“Empreender não é arriscado. Arriscado é trabalhar durante 35 anos para outra pessoa e depois viver da previdência social”.

Tudo bem que Warren tem talento magistral, não empreende no Brasil e não tem opções de títulos de juros altos nos EUA. Mas se ele teme viver com a previdência de lá, o que diremos nós, com o nosso quebrado INSS? Ter uma empresa pode representar uma independência financeira mais factível do que quando se é empregado. É o que se espera da forte carga de riscos no trade-off risco/retorno ao se empreender.

Mas nem todo mundo tem perfil, dedicação, liderança ou paciência para empreender. Há um preço a se pagar: de tempo, dinheiro e as vezes até de saúde. Para os que estão dispostos, é evidente que vale muito a pena. Justamente por ser muito arriscado, temos de deixar o empreendedorismo intuitivo de lado: para se abrir uma empresa, é fundamental estudar o funcionamento do negócio e o mercado.

Como estão os concorrentes? É possível ter lucro? Quais os meus diferenciais? Muita gente acaba abrindo primeiro o negócio, baseado apenas no que sabe produzir, e acaba quebrando a cara porque se esquece que o negócio tem que dar dinheiro no final.

O investidor João Kepler costuma dizer que o empreendedor deve ser persistente, mas não insistente. Temos visto geralmente o contrário: muita teimosia e pouca força de vontade para fazer um negócio dar certo, já que isto costuma levar um bom tempo.

 

Empreender: Plantar, Cultivar e Colher…

Uó >>> Eu disse na resposta anterior que estou procurando me ‘reinventar’. Seria o seu projeto “Dinheiro com Você” uma forma de você também se reinventar? O que de fato está por trás desta empreitada? Pergunto isto já imaginando sua resposta, mas gostaria de ouvir suas próprias palavras.

Não foram os motivos financeiros que me fizeram pensar em sair da empresa e trabalhar com educação financeira. Aliás, acho que sua pesquisa da blogosfera financeira pode comprovar: mesmo os maiores sites de Educação Financeira no Brasil são relativamente bem pequenos, não é?

Se compararmos com a audiência de sites de piadas, fofocas ou pornografia, aí que vira covardia mesmo. Este é um ponto triste (por outro lado, bastante desafiador): o tema que trabalhamos é visto por muitos como supérfluo, pecado, tedioso ou qualquer coisa do tipo. Também, pudera: a Educação Financeira não seria um oásis em meio a um país que não valoriza a Educação como um todo.

Por outro lado, sinto-me extremamente útil ao compartilhar estes conhecimentos com as pessoas que precisam. Ver uma pessoa agradecida por se livrar das dívidas do cartão de crédito e ouvir meu amigo, gerente de banco, dizer que não aguenta mais as pessoas contestarem as ofertas do banco por terem se informado através do meu blog, são coisas que não tem preço.

Este sentimento de utilidade pessoal contrasta com a realidade que eu vivia na minha empresa: relógios de ponto são commodities. Não adianta o que você faz, o produto tem de ter as características dos concorrentes e sair mais barato. Ninguém o compra por ser legal, um relógio é um mal necessário.

Nesta ótica, independente da lucratividade, não me sinto atraído por negócios onde não é possível surpreender o seu cliente. O mínimo que você deve fazer é o máximo. Como é o caso de uma transportadora, por exemplo: o produto tem que chegar rápido e a salvo, com o frete custando mais barato que os concorrentes. Não há adicionais de valor percebíveis, para os quais o cliente estaria disposto a pagar. Não gosto de trabalhar em negócios assim.

Estratégias de Investimentos

William >>> Sendo empresário há um bom tempo, a partir de quando você começou a se interessar por investimentos? Falando de renda variável, como você enxerga o mercado acionário no Brasil?

Vejo um problema mundo grande de aderência dos livros americanos, que pregam investimento em valor ou “compre e guarde” (buy and hold), à realidade brasileira: será que dá mesmo para se “casar” com uma empresa brasileira?

Lembremos que não temos por aqui uma Gilette, Microsoft, Apple, etc… Consideremos também que os americanos não tem títulos públicos (com risco muito menor que na bolsa) pagando juros reais tão altos como no Brasil.

Por outro lado, da análise técnica, o livro Axiomas de Zurique diz que “fazer gráficos dos preços de ações é como fazer gráficos da espuma do mar”.

Há muitos “especialistas”, ligados às corretoras, que fornecem previsões com maior interesse em gerar corretagem para suas empresas do que o interesse dos seus clientes em si.

Nesta ótica, qual a sua estratégia de investimentos na bolsa? Existe alguma dica para quem está começando, para que o investidor consiga acompanhar as tendências de baixa e de alta das ações?

Comecei a interessar por investimentos uma semana antes da grande crise da era moderna, lá pelos idos de maio de 2008, tive a façanha de comprar o topo do século em Petrobras e Vale. Na verdade o interesse veio um pouco antes mas a entrada no mercado foi naquele momento, de lá para cá tem sido uma “peleja”.

Bom, tenho que confessar que entrei na roda da fortuna sem conhecimento algum, muito influenciado por mídia sensacionalista e comentários empolgados de colegas já investidores, contudo, o resultado não poderia ser diferente. Hoje penso que o mundo dos investimentos deve ser encarado como uma faculdade, ou seja, você precisa estudar 5 anos, fazer um estágio de 1 ano e só assim começar a exercer a profissão. Eu queimei as etapas, nem fiz o vestibular e já coloquei meu dinheiro para girar. Por sorte não era muito.

Enxergo o mercado acionário do Brasil como muito restrito, muito pequeno, mas com potencial de crescimento muito grande nos próximos anos. Lógico que não darei certeza que vai crescer, mas que tem espaço isto tem. Somos uma país muito rico em vários setores, temos bons profissionais formados, porém, a produtividade do brasileiro ainda é muito baixa.

Se as medidas corretas forem tomadas nos próximos anos, a indústria irá crescer, o comércio irá crescer, a economia irá crescer. Repito, estou falando aqui de potencial e não de realidade. Se vai melhorar ou não é outra história. Sim, os juros são altos, mas o risco do país ainda é muito alto. Se diminuir o risco nos próximos anos o investidor não terá outra opção a não ser ir para a renda variável. Mas é só uma aposta, baseada em uma probabilidade.

Bom você colocar esta questão dos gráficos. Eu já fui uma devoto fervoroso da análise técnica. Mas cheguei à conclusão que os modelos não servem de forma isolada como agentes de apoio à decisão. São sim um ferramental, nada mais que isto. Particularmente, antes de comprar um papel sempre olho o gráfico do mesmo, mas isto é apenas um dos indicadores que irei analisar para entrar ou não naquele investimento.
Nesta ótica, o investidor deve se cercar de informações que vão desde o macro até o micro. No macro, ele deverá estar atento às conjunturas econômicas e até políticas, tanto domésticas quanto internacionais. No micro ele deverá ir à fundo nos balanços das empresas, estudar cada múltiplo fundamentalista para saber separar o joio do trigo.

Como já te falei uma vez, copiando frases feitas de outras pessoas: “não há atalhos”, “não há almoço grátis”, “quando a maré está alta, todo mundo nada tranquilo, mas quando a maré abaixa, você verá quem está nadando pelado”. Portanto, se você não estudar, estudar e estudar, que seja para escolher os melhores papéis ou para escolher os melhores gestores, você estará ao acaso do caos, poderá ganhar e poderá perder na mesma proporção.

Respondendo à sua última pergunta, acompanhar tendências de baixa e alta na bolsa é relativamente simples, basta abrir o gráfico do IBOV, mas o gráfico nada mais é do que o resultado de uma conjunção de fatores, micros e macros, internos e externos, portando, a informação de valor estará em outros locais e não nos gráficos. Quais locais são estes? Melhor deixar para outra conversa, rs

Investidor Anjo

Uó >>> No seu post para o site Minha Vida Nova você abordou um tema muito importante hoje no mundo do empreendedorismo: Investimento-Anjo.

Você procurou apresentar o tema tanto do ponto de vista dos investidores quanto das startups, salientando que as chances de uma startup ter sucesso aumentam de 10% para 30% quando um anjo entra no jogo, ou seja, eles são fundamentais para manter este ecossistema vivo.

Por outro lado, os riscos são grandes. E sempre que se toma um alto risco, as expectativas quanto ao retorno são as mais elevadas.

Dito isto lhe pergunto: qual sua experiência nesta área de investimento-anjo? Sua empresa teve um anjo no início? Atualmente você mudou de lado e agora se tornou um investidor anjo? No seu texto foi citado que a Associação dos Anjos do Brasil recomenda alocar no máximo 15% do seu capital em um empreendimento. Este valor não seria muito elevado?

Pergunto isto pois no mercado de ações há uma máxima de que nunca se deve arriscar mais de 2% do seu capital em uma operação. A última pergunta que faço tem a ver com a saída. Qual é o ponto em que o anjo sai do circuito? É necessário definir um “target” de saída? Ou ocorre do anjo continuar como sócio da empresa para sempre? Veja que minhas perguntas são de uma pessoa leiga, mas acredito que são as questões que podem girar na cabeça do leitor deste site.

Muito interessante a sua ótica de análise da bolsa! Vamos explorar mais na minha próxima pergunta. Olhando por um lado, um investimento-anjo é bem mais arriscado que o investimento na bolsa:

1) Não tem stop-loss. Se nada der certo, você até pode tentar vender algum ativo (geralmente intangível, como base de clientes) para algum outro player. Mas será condição de caçar as migalhas para tentar recuperar o investimento.

2) Não tem liquidez. Para o anjo sair de uma empresa, pode demorar muitos anos. Isto porque os fundos de investimento iniciais, no geral, não dão “cash out” para o investidor. Mesmo depois do investimento, é normal que o anjo continue lá. E talvez até pior: se não acompanhar o fundo, reinvestindo na startup, a participação do anjo pode ser bastante diluída. Pode se optar por colocar um desconto no valuation (entenda aqui o que é valuation e preço justo) em uma rodada futura, para que os valores de “follow-on” do anjo não sejam tão exorbitantes para manter a sua participação.

A saída do anjo pode se dar de duas formas:

  • Se dá lucro ou caso os empreendedores tenham dinheiro, a participação do anjo pode ser comprada (na verdade, a startup paga o mútuo, contrato de empréstimo sob o qual o investimento-anjo geralmente é realizado)
  • M&A: fusões e aquisições, onde o anjo recebe a sua parte para sair do jogo.
  • Em um cenário praticamente inexistente no Brasil, a startup passaria por todas as fases de investimento até chegar o IPO. Fundadores e anjo, mesmo se tiverem sido diluídos, ficariam bem felizes neste ponto.

Mas vamos analisar de outra forma. Você ilustrou todo o trabalho de se preparar profissionalmente para investir na bolsa, de escolher uma ação e de acompanhar os resultados. De repente, vem uma informação que só os administradores sabiam. Vide casos recentes: Grupo X, Petrobras, etc.

Como se sabe, governança corporativa e punição aos responsáveis são instrumentos em que ainda estamos engatinhando no Brasil. Os minoritários são atropelados. Evidente que nem todas empresas funcionam assim, mas a ideia é essa: na bolsa, você está apostando não só na empresa, como também na seriedade, competência e transparência dos seus gestores.

No investimento-anjo, espera-se estes fatores também dos majoritários. Mas aqui você terá o poder de criar o modelo de governança que atenda aos seus interesses de gestão.
Mais do que isso, poderá influenciar os rumos dos negócios, de maneira que se não der certo, você terá a sua parcela de culpa também.

Sobre o risco, penso que aportar 15% do patrimônio, principalmente em uma única startup, seja extremamente arriscado. Com co-investimentos e sindicatos, é possível investir em empresas com valores a partir de R$5 mil. Mas sejamos justos no trade-off risco/retorno: espera-se muito mais dinheiro neste negócio que o investimento tradicional em bolsa. Como também é o caso dos derivativos: mais riscos, mais retornos esperados.

O que podemos dizer, então, do cara que vende a casa própria para alocar em seu próprio negócio ou que abandona um baita de um emprego para isto? Do ponto de vista racional, nosso trabalho de educação financeira é dizer que não é recomendável que ninguém faça isso. Por outro lado, como tenho exemplos na minha própria família, foi justamente o que permitiu uma mudança de vida fantástica para esta pessoa.

Minha empresa não teve e acredito que nunca terá investimento-anjo. Trata-se de um negócio pouco escalável, onde um aumento na demanda implicaria em aumentos expressivos de recursos fabris e humanos.

Estou começando agora no universo do investimento-anjo. Acho o ecossistema de startups no Brasil bastante promissor (tal como a bolsa!) e exuberante, com o investimento-anjo sendo uma forma de compartilhar conhecimentos em gestão e diversificar patrimônio de risco também.

Conselhos para os Iniciantes

William >>> Embora seja muito importante que criemos o hábito de poupar e investir o que sobra, é certo que uma pessoa muda de vida somente quando resolve assumir riscos. É o que se espera quando se cria uma empresa ou se investe em ativos onde não há certeza de retorno (imóveis, ações, etc). Como dizem por aí, o maior risco é não correr risco nenhum. Não há dinheiro no comodismo.

Baseado nisto, a bolsa de valores pode ser uma ótima alternativa para se conseguir retornos significativos, com uma liquidez não encontrada em nenhum outro negócio.

Com a sua experiência, como o investidor iniciante pode começar os seus estudos para investir na bolsa? Interpretar os fundamentos da empresa me parece que é o passo inicial.

E depois, quais as estratégias de entrada e saída? Claro que não existe receita de bolo que funcione para tudo, mas você utiliza alguma metodologia de stop-gain e stop-loss?

Há algo na sua pergunta, nas entrelinhas, que precisa ser deixado muito claro ao investidor iniciante: a relação R/R – risco/retorno. É comumente falado por aí que quanto mais se arrisca mas se espera lucrar, correto? Porém, sempre estou lendo que o retorno que a bolsa brasileira nos dá não compensa todo o risco assumido.

Vejo muita gente falando que é muito melhor aplicar na renda fixa e colher taxas altíssimas do que assumir o risco da nossa bolsa. Por outro lado, vejo gurus mercadológicos como o Barsi falarem que renda fixa é a mesma coisa que “perda fixa”. O investidor iniciante deve então ficar perdido no meio desta guerra entre renda variável e renda fixa, rs.

Porém, nada impede que o investidor busque o melhor dos dois mundos através da diversificação. E neste contexto, fazer as melhores escolhas será fundamental. Daí vamos à resposta da sua pergunta: onde e como buscar estas informações? A resposta é mais que óbvia: nos livros.

Mas quais livros? Não irei fazer aqui uma relação de livros de investimentos, mesmo porque muita gente já fez isto na internet, basta buscar no Google. A leitura dos clássicos é fundamental, começaria por este que você mesmo citou: Os Axiomas de Zurique. Nos sites e blogs também há muito material disponível, inclusive, encorajo todo iniciante a criar um blog e começar a participar das discussões na blogosfera de finanças.

Sim, saber analisar e entender os fundamentos das empresas é essencial. Com isto, o investidor interessado em B&H já pode começar seus aportes em bolsa. Já a segunda pergunta não tem uma resposta consenso no mercado. Muitos afirmam que procurar pontos de entrada e saída em uma abordagem buy and hold não trará melhoras significativas no longo prazo, pelo contrário, pode até diminuir a rentabilidade.

Não é o que os grandes gestores de fundos pensam, estes acreditam que o timing de mercado é fundamental. Contudo, estamos falando de duas naturezas diferentes: Gestor é gestor, pequeno investidor é pequeno investidor. Portanto, não aconselharia a prática de timing para a grande maioria das pessoas.

Respondendo a sua última pergunta: sim, eu utilizo a metodologia de stops gain e loss, mas só nas operações do tipo trade. Não faz muito sentido em se falar de stop em investimentos de longo prazo, a não ser que se esteja falando de stop de fundamentos, isto é, a empresa ficou “ruim” então precisa ser retirada da carteira.

Mas devo lhe confessar que costumo vender papéis em alguns momentos que considero o mercado excessivamente valorizado e também comprar com a mão mais pesada em momentos que o mercado está excessivamente desvalorizado. Algo muito subjetivo preciso salientar, nunca saberemos quando algo está muito caro ou muito barato. Aliás, se tem algo que aprendi nestes poucos anos de bolsa, é que não há nada tão barato que possa cair mais e nada tão caro que não possa subir mais.

Erros/Acertos do Empreendedor e o Vale do Silício

Uó >>> William, então vou lhe fazer minha última pergunta – que na verdade são dois pedidos: Gostaria que você compartilhasse com nossos leitores qual foi o seu maior erro na carreira profissional, salientando o que você aprendeu com ele, e também qual foi o seu maior acerto, salientando o que levou a ele.

Para concluir, gostaria que você apresentasse ao nossos leitores o Vale do Silício Brasileiro. Muitos não conhecem a região do Sul de Minas onde estão localizadas grandes empresas inovadoras na área de eletrônica e computação bem como centros de ensino referências nesta área como o INATEL.

A minha maneira de enxergar a bolsa vai exatamente de encontro com a sua forma de pensar. Não existe um investimento perfeito, que se apresente favoravelmente em qualquer situação. Então, a ideia é investir em conhecimento, se aperfeiçoar, e diversificar o dinheiro para aproveitar o melhor de cada um dos tipos de investimento. Ou até mesmo para se proteger, relativamente, caso algum deles vá muito mal das pernas.

Sobre as novas perguntas, agradeço muito pela oportunidade de falar dos meus erros, acertos e de minha cidade! Acho que os erros são muito mais numerosos que os acertos. Por sorte e muito trabalho, ainda bem que a balança pesa mais para o lado dos acertos!

Talvez o maior erro tenha sido investir muito dinheiro da empresa em produtos para mercados que não conhecíamos. Sempre tivemos ideias boas, que transcendiam o mercado em que atuávamos. Pensávamos que uma boa ideia e um bom produto seriam suficientes para conquistar novos mercados.

Muitas vezes o dinheiro era todo destinado para o desenvolvimento do produto: moldes, engenharia de desenvolvimento, protótipos, etc. Não sobrava (e não tínhamos confiança na metodologia proposta) para investir em marketing.

Neste sentido, acompanhando o ecossistema de startups, tenho aprendido diversas lições. Da metodologia/livro Startup Enxuta, podemos extrair muitos conhecimentos importantes, que podem ser utilizados para empresas de qualquer porte. Há cases, inclusive, de implantação no governo americano.

Desenvolver o mínimo possível e criar experimentos (com metodologia científica) para validá-los, pode ser muito mais eficiente que quaisquer planos de desenvolvimento e de marketing que não levam a lugar nenhum.

Permita-me colocar um trecho deste livro, que ilustra bem a ideia:

“Tradicionalmente, o gerente de produto diz: ‘Quero isso’. Em resposta, o engenheiro afirma: ‘Vou desenvolver isso’. Mas, ao contrário, pressiono minha equipe para primeiro responder a quatro perguntas:

1) Os consumidores reconhecem que têm o problema que estamos tentando solucionar?
2) Se houvesse uma solução, eles comprariam?
3) Comprariam de nós?
4) Conseguimos desenvolver uma solução para esse problema?

A tendência comum do pessoal de desenvolvimento de produto é pular direto para a quarta pergunta e desenvolver uma solução ANTES de confirmar que os clientes têm o problema. Aliás, muitas empresas são criadas a partir do item 4, diga-se de passagem.

Por outro lado, o fato de sempre investir pesado em engenharia nos permitiu sermos mais rápidos que a concorrência. Tínhamos um produto para outro segmento, com arquitetura muito mais avançada que os produtos de controle de ponto de então. Esta arquitetura acabou servindo como base quando surgiu uma nova legislação que ditava requisitos muito superiores para um REP – Relógio Eletrônico de Ponto. Este foi um dos nossos maiores acertos.

Falando da minha cidade, Santa Rita do Sapucaí, MG. Com menos de 40 mil habitantes, temos mais de 150 empresas de base tecnológica. Esta proporção é comparável aos polos mais desenvolvidos do mundo, inspirando o nome que é conhecida: o Vale da Eletrônica.

Muita gente, assim como eu, sai da faculdade ou escola técnica e já abre a sua empresa (o que é bom e ruim ao mesmo tempo, reconheço).

Aqui em Santa Rita são montadas as urnas eletrônicas, foi feita a primeira transmissão digital de TV do Brasil. Produtos usados no Brasil e no mundo são criados e montados aqui: tokens de banco, telecomunicações, equipamentos de segurança (as empresas líderes estão aqui), etc.

Tudo isto começou com a ETE – Escola Técnica de Eletrônica. Tivemos a primeira escola de eletrônica da américa latina, onde os alunos tinham aulas de televisão sem nem mesmo terem visto estes equipamentos na vida real. A ETE foi “bancada” por uma mulher chamada de Sinhá Moreira. Casada com um diplomata, viajava o mundo inteiro, conhecendo pessoas como Albert Einsten. Ela foi pioneira a ao vislumbrar o papel que a eletrônica teria no mundo.

Sem dona Sinhá, provavelmente não estaria escrevendo este texto, quem sabe. Talvez pudesse estar trabalhando em alguma fazenda da região, que é justamente o perfil econômico de cidades parecidas com a nossa. A ETE foi a base para a construção de diversas empresas daqui e transformou profundamente nossa cidade, em todos os aspectos.

Outra instituição que não seria possível sem a ETE é o INATEL, que se consolida como a principal instituição de ensino de telecomunicações do Brasil. Atualmente, o INATEL tem cursos de computação, engenharia biomédica e de automação e controle. Também conta com um importante centro de desenvolvimento, através do qual são desenvolvidos produtos de importantes multinacionais de telecomunicações.

No INATEL está uma das principais incubadoras do estado e um projeto de crowdworking para startups, em parceria com a Ericson e a Telefônica.

Liderança e Gestão

William >>> Sua pergunta foi tão boa que quero devolvê-la: Uó, quais são os seus maiores erros e acertos em sua vida profissional? Me estendendo um pouco: e na sua vida financeira?

Sobre meus maiores erros, vou citar um gerencial e um técnico. O gerencial ocorreu em 2008, neste ano minha empresa tinha acabado de se unir com outra empresa do mesmo setor aqui em Belo Horizonte (atuamos no setor de automação industrial). Este processo de fusão acabou não funcionando em função de conflitos graves que ocorreram entre as pessoas, tanto no nível gerencial quanto no nível operacional.

Na minha área, que era o departamento de desenvolvimento de sistemas industriais (o que se chama hoje em dia de T.I. Industrial) os conflitos também estavam ocorrendo, mas não soube lidar com eles. Tinha acabado de assumir a gerência do departamento sem ter experiência em gestão de pessoas. Acabou que a situação foi degenerando tanto que alguns membros da equipe ficaram tão descontentes que começaram a sabotar a empresa.

Não os culpo totalmente, olhando hoje para trás vejo que não tive capacidade para liderar e motivar aquela equipe. A história acabou com a demissão das duas pessoas que estavam sabotando a empresa. Um ano depois a fusão das duas empresas foi decretada como inviável.

O erro técnico mais grosseiro que cometi foi na área comercial há três anos atrás. Na verdade, foi um erro de avaliação conjunta, não só meu. Vendemos um projeto de desenvolvimento de um sistema industrial para um grande grupo siderúrgico que deveria ser concluído em 10 meses. Porém, subestimamos os esforços.

A tecnologia a ser utilizada não era do nosso domínio e gastamos 3 vezes mais o tempo estimado. Isto gerou um déficit financeiro na empresa que fez o faturamento cair 3 vezes durante 20 meses. Para que a empresa não fechasse as portas tivemos que ficar este período sem tirar um tostão do caixa. Na verdade, havia um certo fluxo mensal entrando mas que era suficiente apenas para pagar as despesas e dois outros colaboradores.

Sobre os acertos, sinceramente não lembro de algum que me faça pensar: “esta foi a grande tacada da minha vida”. De qualquer forma, na minha vida profissional tomei duas decisões que me trouxeram aonde estou hoje. A primeira foi quando estava saindo da faculdade. Na época estava estagiando em uma empresa cujos sócios estavam se separando. Fui convidado por dois sócios que estavam saindo da sociedade para ir trabalhar com eles. No primeiro momento não aceitei, mas alguns dias depois decidi aceitar o convite.

Alguns meses depois a empresa que estávamos fechou as portas, ou seja, se eu tivesse ficado lá teria dado errado. Outra grande decisão que tive que fazer foi quando a fusão da minha empresa citada acima naufragou. Na ocasião eu tinha três escolhas: permanecer na empresa original (minha empresa atual), permanecer na outra empresa da fusão ou procurar outra empresa para trabalhar. Optei por retomar a empresa original junto com meu sócio que é o fundador da mesma. Passamos por um período difícil, alguns meses sem projeto e sem faturamento, mas graças ao nome que tínhamos no mercado conseguimos colocar a empresa para funcionar novamente.

Na minha vida financeira cometi muitos erros. Muitos gastos desnecessários, investimentos em empresas erradas, etc. Mas acho que meu maior acerto foi ter casado com minha esposa, rs. É ela que segura as pontas quando a minha empresa entra em crise e o faturamento cai quase a zero. Resolvemos adotar uma vida financeira frugal de forma que só o salário dela é suficiente para pagar as despesas correntes. Desta forma, nestas duas crises que passei nestes últimos oito anos, não foi necessário resgatar investimentos nem mesmo mexer na reserva de emergência.

Inovação

Mundialmente falando, vivemos em um cenário financeiro instável, pois muitos são os países que, por maior receita que gerem, ainda assim estão mergulhados em dívidas. Exemplos são: E.U.A, Brasil e outros. Porém, em meio a tudo isso, trouxemos dicas de inovação e empreendedorismo para que neste período de instabilidade financeira você não seja afetado. Confira abaixo no infográfico produzido por Pacotes Claro TV algumas dicas para montar uma Startup de sucesso.

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